quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ÉTICA NA ESCOLA

“Aprender a ser cidadão é, entre outras coisas, aprender a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não violência; aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações e comprometer-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país. Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos pelos alunos e, portanto, podem e devem ser ensinados na escola.” *

Em geral, o cotidiano das escolas, principalmente nos grandes centros urbanos é bastante agitado e às vezes até tumultuado. São muitos alunos, muitos conteúdos, muita gente para lá e para cá. Nesse contexto, nem sempre é fácil ter clareza do porquê de todo esse trabalho, ou em outras palavras, nem sempre se tem clareza de qual é o papel da escola na sociedade em que vivemos hoje.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizam que “...a educação escolar deve possibilitar que os alunos sejam capazes de:

compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;

posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas.” pg 1


Certamente, não são objetivos fáceis de serem transformados em ações no cotidiano da escola porque demandam um grande esforço da equipe escolar. Nesse caso, o melhor seria que os educadores, coordenadores, funcionários, diretores, alunos e comunidade decidissem juntos (no Conselho de Escola, por exemplo) que conteúdos adotar, que procedimentos escolher, que atitudes privilegiar a partir de um diagnóstico da situação da escola:

Os alunos têm canais de participação nas decisões da escola? Quais são eles? É possível ampliá-los?
A solidariedade está presente nas relações sociais? (entre alunos, entre professores e alunos, entre funcionários, entre a escola e a comunidade); ela é intencionalmente um valor desejado e trabalhado na escola? · Existe clima de respeito?
Os alunos aprenderam a argumentar na defesa de suas idéias apoiados em fatos, conceitos e valores?
Os direitos são respeitados? Os deveres são valorizados?
Como são resolvidas as situações de conflito? Como são negociados os impasses?


:: O diagnóstico pode ser um bom começo.


Ilustração: Luiz Maia
Existem muitas maneiras de investigar os valores que estão orientando as ações e as relações com o outro na escola. Pode-se propor, por exemplo, que alunos, funcionários, professores façam uma semana de observação, a partir de alguns critérios, sobre a vida nos espaços coletivos: os intervalos, a hora do lanche, ou a secretaria, por exemplo; os alunos de uma classe observam suas próprias atitudes no dia-a-dia, fazendo uma espécie de relatório por uma semana. A partir das observações, é importante discutir criticamente e definir o que o grupo considera que está bom e o que necessita mudar e melhorar.

Se esse trabalho faz parte do projeto da escola (como deveria fazer), é preciso também que todos – alunos, funcionários, professores, pais - saibam que princípios regem as ações da escola e que ações estarão sendo realizadas durante o ano para que a escola desenvolva a consciência ética.

Caso ainda não seja ainda possível pensar essas questões na totalidade da escola, sempre é viável fazer alguma coisa em pequenas equipes ou duplas de educadores, e, aos poucos, ir buscando apoio dos demais.

:: O CIDADÃO – CONTEÚDOS DISCIPLINARES E ÉTICA


Ilustração: Michele Iacocca

A formação integral do cidadão não diz respeito apenas a atitudes e valores, mas também a conteúdos, considerados na sua totalidade. Na verdade, fatos, conceitos, procedimentos de todas as áreas de ensino estão intimamente ligados aos valores e atitudes humanas. Desse modo, a vida da escola, seja ela na sala de aula, nas reuniões de professores, nos encontros com os pais, seja nos trabalhos feitos pelos alunos respira ética, mesmo se a escola tem atitudes pouco éticas, ou até quando o grupo não têm consciência desse fato.

:: TRABALHANDO A ÉTICA

Uma questão importante é compreender que não se trata apenas de montar um curso para se falar de ética com os alunos, mas de viver as situações, os problemas presentes na escola e na comunidade, as aulas de todas as disciplinas a partir de princípios éticos da vida em sociedade. Não adianta fazer discurso sobre as regras gerais de convivência na escola quando a norma é o tratamento desrespeitoso entre as pessoas, assim como não adianta saber como funciona a cadeia produtiva do papel se existe uma prática generalizada de desperdício nas salas de aula. É preciso buscar uma certa coerência entre a teoria, os princípios que se prega e a prática diária.

Além disso, o cotidiano escolar é repleto de situações que podem servir de ‘matéria prima’ para a discussão de questões éticas. É importante que os professores e toda a equipe escolar estejam atentos a essas situações e possam aproveitá-las da melhor maneira possível para provocar reflexões sobre elas, destacando-se os diversos pontos de vista existentes, os conflitos e quais as alternativas para resolvê-los.

Mais que isso, não se trata de ensinar aos alunos uma lista de preceitos morais, como devem responder a essa ou aquela situação. No campo do ensino de questões éticas, não cabe a pregação de uma tábua de bons valores. Se o que se propõem como objetivo é o desenvolvimento de cidadãos livre-pensantes, a simples pregação de tábuas de valores torna-se uma contradição. De acordo com esse objetivo, o desafio é possibilitar aos alunos recursos internos e condições objetivas para avaliar as situações em que vivem e fazer boas escolhas tendo em vista uma vida mais justa e solidária entre humanos.

Não se pode esquecer também que a construção de uma vida democrática, pautada por princípios éticos, é dinâmica. Evidentemente surgem fatos novos, as pessoas (alunos, professores, pais, funcionários) mudam, existem conflitos diferentes (porque eles nunca deixam de existir) que necessitam ser resolvidos a partir das discussões, do diálogo, criando-se uma tradição no grupo de como fazer isso.

A vida democrática não é construída em um dia nem por uma pessoa, ela é feita a cada dia e pelo esforço de cada um para que seja possível um mundo mais justo.

:: SUGESTÕES DE TRABALHO

Assim, podemos afirmar que existem muitos modos de se valorizar e ter clareza dos princípios que pautam o cotidiano escolar. Algumas possibilidades:


acolhimento dos alunos pela escola – em todas as situações, com momentos especiais no início do ano letivo, nas mudanças de período ou turmas, nas transferências crianças e jovens de outras escolas;
criar espaços para que os pais entrem na escola e participem dela;
resolver os conflitos por meio do diálogo;
criar código de ética da classe ou da escola; estabelecer conjuntamente normas de condutas periodicamente revistas – por exemplo, ouvir e respeitar a opinião dos colegas, não interromper a fala do outro; respeitar as diferenças;
organizar a participação efetiva dos membros do Conselho de Escola;
estimular a criação do Grêmio;
instituir as representações de classes;
eleger este ou aquele tema para os projetos de classe/série/turmas com pesquisas e estudos sérios, sem perder o objetivo final de toda ação educativa;
trabalhar os fatos e conceitos científicos sempre relacionados com sua presença na organização da vida humana e ao mundo dos valores.
*(BR Ministério da Educação - Secretaria de Educação Fundamental. Ética e Cidadania no convívio escolar. Brasília, 2001,pg 13)

Produção e Edição: Equipe EducaRede

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